sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O mito da madrasta má



Quando falamos sobre a ideia de que as madrastas são más, qual a primeira imagem que vem à sua cabeça?
Provavelmente é a personagem da Rainha Grimhilde ou a Rainha Má, a madrasta da Branca de Neve!
* Nos quadrinhos e produtos, seu nome é "Rainha Grimhilde", mas a Disney parece não reconhecer esse título. Ela é muitas vezes referida como a Rainha Má, enquanto nos parques temáticos se referem a ela como a Rainha da Neve. A Bruxa é muitas vezes referida como a Velha Bruxa. Em 2011, a Walt Disney Company oficializou o título de Rainha Má para a personagem., ela faz parte da franquia Disney Vilões.
Como diriam hoje me dia, ela não me representa ;-). Acho que ela era só mais uma rainha louca e malvada que pede ao caçador o coração da pobre princesa numa caixa.
Pra mim, o grande símbolo das madrastas más de antigamente é a Lady Tremaine, a madrasta da Cinderela, uma dama da sociedade que se casa jovem por amor e tem duas filhas mocréias. Após a morte de seu marido, ela se casa novamente (casar pela segunda vez era um grande feito na época) com outro viúvo que tem uma filha linda, porém, ele também morre, deixando a pobre Lady Tremaine com uma enteada para criar.
As mulheres nessa época eram tão discriminadas socialmente, que estar numa situação dessas era uma grande roubada, assim foi se formando uma legião de enteados torturados e judiados por essas mulheres.
Hoje me dia não precisamos mais disso! As mulheres tem livre escolha para fazer o que quiserem de suas vidas.
Para ilustrar que nem só de desgraça vive o passado das madrastas, selecionei duas histórias lindas de mulheres que tiveram sua vida entrelaçada com a de seus enteados, os amando e acreditando neles, fazendo seu melhor como puderam com amor.
Machado de Assis foi criado por sua Madrasta Maria Inês.
Filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que freqüentará o autodidata Machado de Assis.

De saúde frágil, epilético, gago, sabe-se pouco de sua infância e início da juventude. Criado no morro do Livramento, consta que ajudava a missa na igreja da Lampadosa. Com a morte do pai, em 1851, Maria Inês, à época morando em São Cristóvão, emprega-se como doceira num colégio do bairro, e Machadinho, como era chamado, torna-se vendedor de doces. No colégio tem contato com professores e alunos e é até provável que assistisse às aulas nas ocasiões em que não estava trabalhando.
Pablo Neruda foi criado por Doña Trinidad Candia Marverde sua Mamadre.
Neruda nasceu a 12 de julho de 1904 em Parral, no Chile de família humilde, viveu no sul do Chile, em Temuco. A mãe faleceu uns meses após o seu nascimento e o pai voltaria a casar. Neruda viria a ter um bom relacionamento com a madrasta, que considerou como a sua verdadeira mãe. Doña Trinidad Candia Marverde , a quem ele chamava de Mamadre , palavra inventada por ele.
Abaixo um trecho de uma poesia feita por ele para sua mamadre.
... Mi padre se había casado en segundas núpcias con doña Trinidad Candia Marverde, mi madrastra.
Me parece increíble tener que dar este nombre al angel tutelar de mi infancia.
Era diligente y dulce y tenía sentido de humor campesino,
una bondad activa e infatigable".

Oh dulce mamadre, nunca pude decir madrastra-
ahora, mi boca tiembla para definirte, porque apenas abrí el entendimiento

vi la bondad vestida de pobre trapo oscuro,
la santidad más útil:
la del agua y la harina ... y eso fuiste: la vida te hizo pan y allí te consumimos,


invierno largo e invierno desolado
con las goteras dentro de la casa
y tu humildad ubicuo desgranando el áspero cereal de la pobreza...
(Pablo Neruda)

Tradução para o português
... Meu pai se casou-se pela segunda vez com Dona Trinidad Candia Marverde, minha madrasta.
Parece incrível ter que dar esse nome ao anjo da guarda da minha infância .
Era zelosa e doce e tinha um sendo de humor campestre, uma bondade ativa e incansável .
Ah doce Mamadre , nunca pude te dizer madrasta
Minha boca treme para defini-la, porque apenas agora entendo,
Vi a bondade vestida de podre trapo escuro, a santidade mais útil
De água e farinha assim a vida te fez pão e ali te consumimos,
Inverno longo e inverno ermo, c om as goteiras dentro de casa,
e a sua humildade e omnipresente
amenizando o aspecto áspero da pobreza...
(Pablo Neruda)

Tradução: Yara R Caruso
Links Relacionados :
Link da poesia La Mamadre completa (linda):  http://www.poemas-del-alma.com/pablo-neruda-la-mamadre.htm

Um comentário:

Unknown disse...

Realmente, a maioria das pessoas tem como imagem de "brava" a pessoa que se passa como MADRASTA. Hoje em dia ela tem que TER, SER e ATUAR como uma "cuidadora" de seu enteado, mas na verdade a maioria delas são como MÃES! Ninguém de primeiro momento veem a "madrasta" como uma pessoa boazinha, a imagem de ser uma pessoa má já consiste há muitos anos. Mas que na verdade ninguém para e diz: " Puxa aquela mulher não é mãe de fulano mas a trata melhor que a própria mãe". Tem pouco reconhecimento essas mulheres que são madrastas mesmo. Eu não posso passar nenhuma experiência porque nem pai tive, mas vejo no dia a dia como são consideradas as madrastas. Mas, eu tiro chapéu pra quem é a verdadeira MADRASTA-MÃE.!